Os três Símbolos Ecumênicos

O Domingo da Santíssima Trindade é uma oportunidade de pensar em quem é Deus e o que esse Deus tem feito por cada um de nós. Além disso, também é uma oportunidade de refletir sobre os três Credos Ecumênicos: Apostólico, Niceno e Atanasiano.

Eles são entendidos como ecumênicos pois são aceitos pelos cristãos ao redor do mundo como a expressão correta daquilo que a Palavra de Deus ensina. Isso significa que não apenas luteranos confessam esses credos, mas unimos nossas vozes com cristãos não somente deste tempo, mas ao longo de toda a história. Razão deles serem colocados logo no início do Livro de Concórdia.

Talvez vocês já tenham percebido que o primeiro artigo que se refere a Deus Pai, e o terceiro, a Deus Espírito Santo, são relativamente menores, comparados ao segundo artigo, que se refere a Deus Filho – Jesus Cristo. Talvez a resposta que poderíamos oferecer é que os Credos são trinitários na estrutura – ou seja, reforçam a ênfase batismal – mas, são Cristológicos em sua extensão. Isto é, enfatizam a centralidade da Obra de Cristo em favor da humanidade pecadora. Em meu e seu favor.

Por isso, quando alguém perguntar sobre o que você crê, o que você confessa, o que a sua Igreja ensina, você tanto pode usar os Credos, como correta expressão do que a Bíblia diz sobre Deus e o que Ele faz, como também poderá usar as Confissões Luteranas, que são um claro e consistente testemunho da nossa fé luterana. Em ambos os casos, quando perguntarem sobre o que você crê, você terá certeza de que não está sozinho para responder.

Talvez você esteja curioso para conhecer mais sobre a origem dos Credos. Abaixo compartilho um pequeno texto que aborda os principais aspectos que levaram a Igreja a produzir os credos. [1]

Desde o começo a igreja cristã precisou trabalhar com controvérsias e ensinos contrários a fé cristã. Isso fez com que fosse fundamental ter com clareza qual era o resumo da fé cristã. O Credo mais conhecido é o texto do Credo Apostólico. Assim como o temos agora é datado do século VIII. Trata-se, porém de uma revisão do assim chamado Credo Romano, que estava em uso no Ocidente no século III. Por trás do antigo Credo Romano, por sua vez, estão várias formulações doutrinárias que revelam sua relação e raízes encontradas no Novo Testamento. O Credo Apostólico, como o temos agora, não vem dos apóstolos, mas suas raízes são apostólicas.

Mesmo com uma confissão clara da fé, erros doutrinários continuaram a existir, especialmente quando se tratava da segunda pessoa da trindade, Cristo. Foi no ano 318 que Ário, presbítero da igreja de Alexandria, começou a dizer que o Verbo não era Deus, mas apenas uma criatura. Como criatura o Verbo teve um início, e que esse Verbo não tem comunhão nem conhecimento direto com o Pai. Ário não aceitava a dupla divindade, de Deus e do Verbo. Diante das declarações, Ário foi tirado do cargo por Alexandre, bispo de Alexandria. Ário não aceitou a decisão, contatou outras autoridades e ao perceberem que se tratava de um assunto muito sério teologicamente convocaram uma assembleia geral na cidade de Nicéia para darem um parecer sobre a controvérsia ariana.

O Concílio aconteceu na cidade de Nicéia, em 325. Não sabemos o montante exato de bispos que participaram do Concílio, mas alguns afirmam em torno de trezentos. Após muitos debates, decidiram escrever um credo que transparecesse a doutrina do Deus Triúno, excluindo toda e qualquer possibilidade de o Verbo ser em algum sentido uma criatura.

Quase todos os bispos assinaram ao novo Credo, menos Eusébio de Nicomédia, que ainda estava convencido que Ário estaria certo. Os capítulos dessa história não acabaram por aqui, três anos depois do Concílio, Alexandre, bispo de Alexandria, faleceu, e no seu lugar entrou Atanásio. Atanásio precisou enfrentar os mesmos problemas que seu antecessor, só que agora a doutrina ariana tinha encontrado mais força e adeptos.

O Credo Atanasiano é de origem incerta. O que se sabe é que não foi composto por Atanásio, o grande teólogo do século IV. Muitos sugerem que tenha sido preparado em seu tempo, ainda que seja mais provável ser do século V ou VI e de procedência Ocidental. Em resumo, podemos afirmar o seguinte: o Credo Atanasiano foi escrito para continuar refutando a doutrina ariana.

Confissão de fé: Credo Apostólico      

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra.

E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Cristã – a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém

Confissão da fé: CREDO NICENO

Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, tanto das coisas visíveis como das invisíveis.

E em um só Senhor Jesus Cristo, filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e se encarnou pelo Espirito Santo na virgem Maria e foi feito homem; foi também crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado; e ao terceiro dia ressuscitou segundo as Escrituras, e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai, e virá novamente em glória a julgar os vivos e os mortos, cujo reino não terá fim.

E no Espírito Santo, Senhor e Doador da vida, o qual procede do Pai e do Filho, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; que falou pelos profetas.  E numa única santa Igreja Cristã e apostólica. Confesso um só batismo para remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro. Amém.  

Confissão de fé: Credo Atanasiano

Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolada, sem dúvida perecerá eternamente. E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; Mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade. Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo. Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo. Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo. Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo; Contudo, não são três eternos, mas um único eterno; Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso. Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; E todavia não há três Deuses, porém um único Deus. Como o Pai é Senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; Entretanto, não são três Senhores, porém um só Senhor. Porque, assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separado, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem negado. O Filho é só do Pai; não feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme já ficou dito acima, deve ser venerada a Trindade na unidade e a unidade na Trindade. Portanto, quem quer salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade. Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe. Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. Igual ao Pai segundo a divindade, menor que o Pai segundo a humanidade. Ainda que é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa. Pois, assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só Cristo; O qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos; E aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno. Esta é a fé católica. Quem não a crer com fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.


[1] Livro de Concórdia. Os três Símbolos Católicos ou Ecumênicos. p.18.

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